quarta-feira, maio 23, 2007

Cristãos

No ano 200, uma carta a Diogneto, de um autor anónimo, falava assim dos Cristãos:

Os cristãos não são diferentes dos outros homens nem pelo território, nem pela língua, nem pelo modo de viver.Eles não moram numa cidade exclusivamente sua, não usam uma língua própria, nem levam um género de vida especial.A sua doutrina não é conquista do pensamento e do esforço dos homens estudiosos, nem professam, como fazem alguns, um sistema filosófico humano.Moram em cidades gregas ou bárbaras, como coube em sorte a cada um, e, adaptando-se aos costumes de vestir, de comer e em todo o resto de vida, dão exemplo de uma forma de vida social maravilhosa que, segundo todos confessam, é inacreditável.Habitam na respectiva pátria, mas como estrangeiros; participam em todas as honras como cidadãos e suportam tudo como estrangeiros. (...)Todas as terras estrangeiras são uma pátria para eles e todas as pátrias são terras estrangeiras...Vivem da carne, mas não são segundo a carne. Moram na terra, mas são cidadãos do céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas através do seu teor de vida superam as leis.Amam a todos e por todos são perseguidos. Não os conhecem e condenam-nos; dão-lhes a morte e eles recebem a vida.São mendigos e enriquecem a muitos; encontram-se privados de tudo e tudo têm em abundância.São desprezados e no desprezo encontram glória; difamam-nos e é reconhecida a sua inocência.São injuriados e abençoam; são tratados de modo insolente e eles tratam com reverência.Fazem o bem e são punidos como malfeitores; e, embora punidos, alegram-se quase como se lhes dessem a vida.Mas os que odeiam não sabem dizer o motivo do seu ódio.Numa palavra, os cristãos são no mundo o que a alma é no corpo.
E hoje, como nos descrevem?

terça-feira, maio 22, 2007

Parabéns...

Lembro-me de um dia em que apontámos o céu e estavas lá, reluzente, brilhando para nós e por nós.
Sorrimos meio acanhados, talvez envergonhados por tão poucas vezes olharmos o céu daquela forma, por tão poucas vezes termos tanta certeza da tua presença...
Não sei...
Crianças, de uma inocência ainda não perdida... E os olhos que teimam em ficar brilhantes, inundados de lágrimas que insistem em não cair... Porque a inocência vai-se perdendo e há vergonha de derramar uma lágrima na presença dos demais...

Hoje o céu está mais iluminado, são duas as estrelas que brilham por nós e para nós...
As memórias que não se apagam, os tempos que ainda despoletam um sorriso mais luminoso, porque só os bons momentos merecem ser recordados...

Paz. Promete-me que estás em Paz.

Que existam sempre Girassóis em todas as janelas.

Parabéns Mã.

Parabéns, querida Estrelinha!

Para ti, Estrelinha:

BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria... .
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza .
e cai no meu coração.


Já esqueci algumas palavras, mas agora sei outras... Sei que continuas a escutá-las, com a infinita candura que é a tua. Sei que continuas a brilhar onde o caminho parece mais negro e a velar, discreta, quando o sol reaparece e se apodera do céu. Continuo até imaginar-te a falar da menina, aos anjos que te acompanham agora... E a elogiar o menino, com o teu sorriso, tão único, tão teu... E a decorar o céu com cores alegres até altas horas da noite, a colar-lhe nuvens e pássaros de vários tamanhos, a desenhar com cuidado as linhas do arco-íris.... Porque nunca te cansaste da beleza e da rectidão. Porque não saberias descansar, sem que a perfeição reinasse à tua volta. Por isso, sofreste aqui. Por isso, és Feliz agora.
Com um girassol na minha janela...




Verde

Tenho aqui 5 cores do arco-íris para ti. As outras 2 é para as procurarmos juntos.

E naquela terra seca, nua, queimada pelo sol e pelo cansaço, caiu uma gota de chuva.

Queres falar?

E uma pincelada de verde veio desequilibrar a harmonia monocromática aparente.

Damos um passeio? Apetece-me dar-te a mão.

E a Vida recomeçou. E seguiram-se outras pinceladas. E outras gotas de chuva encharcaram a terra. E veio o Inverno. Depois a Primavera.

terça-feira, maio 08, 2007

Ao som do bater do coração...


Oração

Saber-Te tão perto, sentir-Te no abraço, no calor, na confiança. Saber que me Amas, saber que estás aqui e que nunca estive só, pois Tu és a minha Mãe, o meu Pai, o meu Colo. Saber que as lágrimas que agora caem não chegarão a tocar o chão que piso, pois já estavas a enxugá-las, mesmo antes de começarem a cair. Sentir-me segura, quando estou conTigo, pois nada do que me dás é em vão. Sentir o cérebro a explodir de questões, mas deixar-me ficar na Tua paz. Oh, Senhor, obrigada pelo dia em que Te conheci. Obrigada sobretudo pelo dia em que Te quis. Temos passado momentos maravilhosos juntos, num diálogo Amigo, sincero, aberto, como nunca tive com ninguém. Sem Ti, já nem conseguiria continuar o caminho, pois agora sei que sózinha não sou nada. Fica hoje aqui comigo, Senhor, como estás sempre, mas permite-me sentir a Tua presença e estar conTigo também. Sem Ti, não sou capaz. Só Tu consegues fazer-me sorrir, quando o céu parece desabar sobre mim, pois só Tu és o Senhor desse céu e criaste-o para as nuvens, mas também para o sol. Confio em Ti, Senhor.

segunda-feira, maio 07, 2007

Uma menina relida

Reli alguns momentos passados... Atardei-me na página escrita por ti sobre uma menina... há mais de um ano... Um passarinho pousou junto à minha janela, sobre o telhado molhado da chuva que voltou a beijar a terra. Cantou. E a sua melodia tornou-se palco desta leitura. Esbocei um sorriso e senti o coração a receber esta lufada de saborosa manhã.

domingo, maio 06, 2007

Eugénio

Se pudesse, pegava-te na mão e levava-te a ver o mar. Sentávamo-nos na areia e eu contava-te histórias de navegadores, caravelas que iam e vinham, astrolábios e rosas-dos-ventos. Falava-te de constelações e de reis, de rotas e de batalhas. Histórias de outros tempos que se tornavam a tua história. E tu voltavas a acreditar. No brilho dos teus olhos, renascia a criança que és e era a tua vez de pegares na minha mão e me levares a conhecer-te. Mostravas-me orgulhoso o casebre sem passado, onde a tua existência apagada reencontrava um pouco de calor a cada regresso a pé, de um percurso que parecia infindável, sob o tórrido calor de um Verão que nunca acaba. Vestias os calçõezinhos azuis e a camisa branca e, de caderno e lápis na mão, fingias que ías para a escola. Eu imaginava-te sentado sobre o banco de madeira tosca, a escutar a voz suave de uma professora chamada Maria. E imaginava a professora Maria, que ainda acreditava também, a enxugar as lágrimas, quando chegava a hora do recreio. Tu continuavas a empurrar-me para dentro do teu mundo, com o sorriso orgulhoso de quem ainda não tem vergonha, de quem ainda não conhece o significado de muitas palavras, como justiça, liberdade ou esperança. E eu seguia-te, visitava o campo cultivado com a ajuda das tuas mãos pequeninas e aprendia a conhecer todos os esconderijos de uma infância sem fadas, balancés ou jogos de futebol, de mão dada com o pai. Já não tinhas pai. Nem mãe. Menino sem passado, sem futuro, de presente desenhado nas cantigas que passavam de boca em boca, nos calos das mãos, nos pés feridos. E eu aprendia a sorrir, apenas por te ver sorrir. Porque tu eras a razão para continuar a viver. À noite, quando te contava mais uma história, não querias adormecer. Nas minhas palavras depositavas os teus sonhos e eu também não queria deixar-te adormecer. Queria contemplar para sempre a inocência do teu ser, quando o teu rosto se abandonava às carícias das minhas mãos. E queria esquecer este mundo, pois a perfeição estava ali, longe da mentira, da decepção, da agonia. Tu eras o meu menino e ambos escrevíamos uma nova história juntos. As caravelas não voltariam àquela terra longínqua, mas eu já não queria partir. Queria apenas ver-te chegar da escola e acolher-te na tua nova casa: os meus braços estendidos para te abraçar.

sábado, maio 05, 2007

Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança. Mano.

sexta-feira, maio 04, 2007

Tranquilidade

E um dia, veio a Vida bater-lhe à porta. Trazia um ramo de flores amarelas e uma borboleta no ombro. Com um vestido cor de arco-íris, vinha buscá-lo, decidida a fazê-lo feliz. Bateu à porta. Nem um ruído, vindo do interior. Voltou a bater, desta vez com mais força. Sorriu e aguardou. Nada. Aguardou mais um pouco. Olhou ao seu redor e deixou a brisa suave daquela tarde de Primavera tocar-lhe os longos cabelos pretos e trazer-lhe memórias de outrora. Recordou danças à chuva, chuvas de estrelas, passeios na montanha. Sempre a seu lado.
Deixou as margaridas junto à porta e partiu. Ele ficou a ouvi-la afastar-se e voltou a enterrar a cabeça na superfície macia da almofada. Estava seguro. Não voltaria a ver o mar, a ouvir os pássaros ou a sujar-se de gelado. Não voltaria a correr na praia ou a dar de comer aos pombos, naquela praça cheia de crianças sorridentes. Não voltaria a passar horas ao telefone, escoando banalidades ou partilhando sonhos impossíveis. Não voltaria a sentir-lhe o perfume de alfazema, nem a acariciar o seu rosto. Não voltaria a entrançar-lhe o cabelo nem a colher margaridas, a seu lado. Não voltaria a ser feliz. Mas, pelo menos, estava seguro. Ali, não havia dúvidas, incertezas, loucuras. Ali, nada poderia atingi-lo. As preocupações não existiam, o tempo deixara de passar. A tranquilidade era uma amante mais compreensiva, sem impulsos ou exigências. Era assim que queria ficar: pálido, quieto, morto.