domingo, agosto 20, 2006

Llovizna


Yo quisiera poder ser feliz como um pájaro
Una flor que ha nascido en el campo
Y no espera más que la lluvia o el sol
Yo quisiera nascer cada nueva manãna
En la luz de un rayo de sol que desnuda la más alta montanã
Y bajar en la suave llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba
Yo quisiera sentir libretad como un águila
Cuando abre sis alas y suelta en el valle una sombra fugaz
Y sentirme raíz del mayor de los árboles
El que roza en las nubes sus ramas desnudas y las hace llorar
Su tristeza en la suave llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba
Yo quisiera arrasar todas estas murallas
Las que callan mi voz en un hueco de sombra y piedra mortal
Y decodificar el sentir de la gente
Que no sabe o no puede aprender que vivir es mejor que soñar
Es igual que la suave llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba
Yo quisiera morir en un dia de invierno
Para sentir la lluvia mojarme la cara una última vez
Como sentir tu boca tocándo la mía
Y aunque solo un instante pensar que no es ese mi último adiós
Que morir es cómo essa llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba.
E voar, voar para bem longe. E deixar as lágrimas lavarem o rosto, adormecido para o mundo, mas tão desperto dentro de mim. Deixar o teu rosto invadir-me outra vez a alma, o pensamento, o coração, o corpo, eu, inteira, assim, sem barreiras. E saber que me vês, me escutas, me sentes também. E partir. E agarrar a tua mão com força, cerrar os dentes e sorrir. E acreditar. E deixar a memória pregar-me partidas. E voltar a acreditar que tudo foi um sonho, apenas porque exististe e isso vale tudo. Valeu o momento em que sorriste, valeu o momento em que choraste, valeu o momento em que nos descobrirmos pela primeira, pela última vez. Valeu, porque foi verdadeiro. E a verdade não precisa do tempo nem da eternidade para nada. E saber que me amaste, mesmo se nunca o disseste com palavras. E saber, apenas saber. E continuar a voar, agarrada a ti, porque preciso tanto, tanto da tua segurança, às vezes. E saber que, agora, basta pedir, pois estarás sempre comigo, pois sinto-te em cada estrela, em cada pedaço de céu, em cada gota da chuva. E foi preciso partires, para poderes estar tão perto. Mas, não importa, não importa. Deixa-te apenas estar, quando preciso de ouvir a tua voz: "Liginha", eu era a tua "Liginha". Nunca fui a "Liginha" de mais ninguém, sabias? E nunca fui mais nada para ti, só a tua "Liginha". E pensar que isso me basta agora. E amar-te, amar-te tanto. E querer dar-te o abraço que ficou aqui, guardado para um momento que não quis acontecer. E aprender a andar sempre de braços abertos, prontos a fecharem-se à volta de alguém, sempre, a qualquer instante. Não quero voltar a sentir este cheiro bafiento. Não aguento esta espera. Por isso chamo-te e tu vens. Olhas-me e voltas a chamar-me "Liginha". E eu ganho forças. E deixo-me chorar. E sei que sou capaz, porque sei que tu acreditas. E amo-te, porque hoje és o que sempre foste, mas sem máscaras. Amo-te porque também és a minha verdade. Amo-te porque um dia nasci e tu estavas lá. Amo-te porque um dia morreste e eu não estava lá. E sofri. Mas, agora entendo que foi melhor assim. Ficou o até já e o abraço. Assim, chamo-te. Tu vens. Eu sorrio. Digo-te "olá". E abraço-te. E sei que sou outra vez a tua "Liginha". E sinto a tristeza a dar lugar à força. E lá estás tu. E o teu rosto. E isso basta-me. Hoje, como a tristeza insiste em ficar, achei melhor vir aqui deixar-te o meu "olá". Hei-de relê-lo e voltar a sentir a tua mão na minha, pois sei que estás sempre, sempre aqui. Até já, querido papá.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Injúrias


Porque as respostas chegam sempre no momento certo...
Comentário ao Evangelho do dia 17 de Agosto (e apenas lido hoje, logo hoje! ;) feito por : . João Crisóstomo (c.345-407), bispo de Antioquia depois de Constantinopla, doutor da Igreja Homilias sobre S. Mateus, nº 61:
Considera pois quantas vantagens retiras duma injúria humildemente sofrida e com doçura. Tu mereces assim, em primeiro lugar - e é o mais importante – o perdão dos teus pecados. Exercitas-te, depois, na paciência e na coragem. Em terceiro lugar, adquires a doçura e a caridade, pois aquele que é incapaz de se zangar com os que lhe causaram desgosto, será ainda muito mais caridoso para com aqueles que o amam. Em quarto lugar, desenraízas inteiramente a cólera do teu coração, o que é um bem sem igual. Aquele que liberta a sua alma da cólera, desembaraça-a também, evidentemente, da triteza: não gastará a sua vida em desgostos e vãs inquietudes. Assim, punimo-nos a nós mesmos ao odiarmos os outros; fazemos bem a nós mesmos ao amá-los. Desse modo todos te venerarão, mesmo os teus inimigos, ainda que sejam demónios. Melhor ainda, não terás mais inimigos, comportando-te assim.

domingo, agosto 13, 2006

Chuva de outono

Ela corou um pouquinho
e respondeu baixinho,
"Sou a Cinderela"...
Desligou o auto rádio. Os olhos transbordavam de um cansaço feliz, nos lábios um traço leve de um sorriso que ficara esquecido no rosto. Recordava os seus momentos de Cinderela e não tinha vontade de deixar partir as réstias de sonhos que ainda a prendiam à realidade. Tanto tempo já tinha passado, mas a idade tinha-lhe provado que o tempo não era mais que uma brincadeira dos anjos, uma roda gigante onde sentam a humanidade à nascença, fazendo-a depois girar, voltando vezes sem conta ao ponto de partida. As rugas do seu rosto apenas revelavam o resultado da erosão do vento e da chuva, provocada quando a roda girou mais depressa, mas não o envelhecimento ou o destino inevitável dos que aguardam a morte. O tempo não existia e a prova disso era o seu coração de menina, as suas faces coradas e aquele sorriso esquecido.
Gostava de reconhecer os passos dados outrora, em cada árvore, em cada ramo partido, em cada raio de sol que penetrava através das folhas molhadas. Tinha a certeza que as mesmas impressões digitais continuavam espalhadas naquele local, onde tinha descoberto, pela primeira vez, o amor. Tinha sido um instante fugidio, mal recordava o toque do corpo que a abraçara, que a cheirara, que a acariciara, que a penetrara, por tão breves segundos, como um grito que não podia mais ser calado. Mal recordava as mãos ávidas que, tão sabiamente, haviam feito escorregar o vestido que trazia, através das formas virgens do seu corpo. Não conseguia lembrar-se do cheiro, do sabor da pele daquele que a amara naquele dia, sentando-a para sempre ao seu lado, na tal roda gigante da vida. No entanto, recordava-se do seu sorriso, do momento em que os lábios que até então tinha beijado às escondidas, se entreabriram e lhe revelaram o segredo do mundo. Tinha nascido para acolher aquele sorriso, para lhe dar um sentido, assim que o contemplasse pela primeira vez. A partir desse segundo, a sua existência mudou para sempre, a roda girou freneticamente e, como que por magia, jactos de côr inundaram tudo o que os rodeava.
Anos mais tarde, aquele sorriso que se rasgara apenas para ela, cristalizar-se-ía e, mais uma vez, seria ela a guardiã da sua memória.
Chegou a casa. Saíu do carro e deixou as gotas da primeira chuva de outono cobrir-lhe o corpo. Era ele, como da primeira vez. Como sempre. Desde aquele sorriso.