sexta-feira, junho 30, 2006

Sem Título

"Sempre que, à medida que fores crescendo, tiveres vontade de converter as coisas erradas em coisas certas, lembra-te de que a primeira revolução a fazer é dentro de nós próprios, a primeira e a mais importante. Lutar por uma ideia sem se ter uma ideia de si próprio é uma das coisas mais perigosas que se pode fazer.
Quando te sentires perdida, confusa, pensa nas árvores, lembra-te da forma como crescem. Lembra-te de que uma árvore com muita ramagem e poucas raízes é derrubada à primeira rajada de vento, e de que a linfa custa a correr numa árvore com muitas raízes e pouca ramagem. As raízes e os ramos devem crescer de igual modo, deves estar nas coisas e estar sobre as coisas, só assim poderás dar sombra e abrigo, só assim, na estação apropriada, poderás cobrir-te de flores e de frutos.
E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes o que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-se e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração.
Quando ele te falar, levanta-te e vai para onde ele te levar."

Susanna Tamaro

Este é o único post que não terá comentários, nem espaço para os colocar, é propositado sim. A mensagem já aqui está, a pessoa a quem se destina lerá quando o mundo assim decidir que deverá ser lida... talvez ao som de "Cada Lugar Teu"... o mundo é redondo...

sábado, junho 24, 2006

Dias...

Abri a folha pintada a azul e rosa, pareceu-me tão abandonada... Há quanto tempo, num gesto (ir)reflectido, nada aqui escrevo...
Saí há pouco para a rua, o caminho é sempre o mesmo por volta desta hora quando estou em casa. Matar um vicio e alimentar outro. Não foi preciso dizer uma palavra para que ambos fossem atendidos. Talvez já o faça há demasiado tempo. Previsibilidade. Acaba por ser mais simples. Não me importo. Acho que nem nunca tinha dado realmente importancia a tal facto.
São 18:13. O fantasma do 13 nas horas ainda não me abandonou mas também não encontrei a sua mensagem. Talvez seja esta uma forma de o exorcisar, sabendo porém que ele há-de voltar até que a mensagem seja entregue.
Quantas mensagens nos são colocadas à disposição e nós simplesmente ignoramos, chamamos-lhe coincidências - acreditasse eu em coincidências - ou simples acasos. Acreditar que as pessoas que connosco se cruzam têm uma mensagem para nos trazer abre-nos o espirito, mas nem por isso temos de aguardar pacientemente pela mensagem. Basta-nos estar alerta.
Somos surpreendidos pelo avançar do tempo, esse vagabundo que não espera por ninguém, quantas vezes perdidos, quantas vezes desprovidos de qualquer energia....
A verdade é que ele não espera por ninguém, e não dará espaço para que possas pensar, aprender a pensar lucidamente em andamento é uma tarefa árdua mas realizável...

segunda-feira, junho 12, 2006

Ressaca literária

Recostou-se.
Acendeu um cigarro e saboreou os primeiros tragos expelindo o fumo espesso que formava uma cortina entre os olhos e o mundo.
Pousou-o no cinzeiro ainda vazio e deixou-se ficar. Pensamentos divergentes e recorrentes. O relógio continuava avidamente a rodar indiferente.

O cigarro, esse já se tinha apagado, consumido e desaparecido quando deu pela sua falta.
Lentamente voltou a si, o silêncio que tinha chegado à pouco tempo não o incomodava, sentia que ele tinha estado sempre lá apesar de ter colocado uma música a tocar...
Lembrou-se de palavras... Sempre as palavras... Algúem já tinha escrito o que agora pensava... não as procurou... sabia-as de cor...
A ressaca de um livro é dos mais altos momentos criadores...
Recordou com um sorriso nos lábios... tão verdadeiro... sabia-se nesse mesmo estado mesmo sem se aperceber...
Procurou então outras palavras, não as tinha relido pois gostava de guardar na memória o êxtase da primeira vez que as lera... mas a altura era a indicada...
cor-de-rosa para o afecto, azul para os sonhos, cor-de-laranja para a alegria, verde para a sabedoria, vermelho para o Amor...
Voltou a observar a imagem... nela vários baldes de tinta esperavam ser esvaziados... o maior... o maior era o azul... uma pequena lágrima teimou em aparecer... tantos e tão fugidios... relembrou de quando não foi capaz de responder a uma simples pergunta... as palavras que lhe fugiam... Sempre as palavras...

Deixou-se voar pelas entrelinhas da sensação que o abraçava... E procurou uma caneta.
Entre as notas musicais deixou um pedaço de si...preencheu páginas em branco como há tanto tempo não o fazia... sem medir virgulas ou palavras e a paz veio por um instante libertá-lo de si mesmo...
Numa das páginas deixou coladas palavras de Fernando Pessoa...
A Arte nasce sempre de alguma Paixão! ...

segunda-feira, junho 05, 2006

Ciclos

A dor de perceber o ciclo da Vida, este ciclo que nos arranca do chão e nos obriga a encarar o rosto que tentamos esconder, cobrindo o nosso espelho interior com pedaços de tecido grosso, arrancado à sociedade, aos costumes, às tradições e, pior, aos nossos medos, verdadeiros fantasmas que nos bloqueiam cada passo. Ah, como dói ser arrancado do chão! Assustar-se com o bater do coração, perceber que está tudo errado e que não devia ter sido assim, mas foi. Perceber que fomos marionetas desses fantasmas, mas marionetas voluntárias, limintando a um sorriso a resposta que a Vida nos exige. Perceber que saír do ciclo é difícil e que aí permanecer é ainda mais doloroso.
Li o meu último post. Tanta esperança. Tanta alegria.
Mas, já passou tanto tempo. O fim-de-semana deixou-me um gosto amargo na boca. Gosto de saudade, de dor, de profundo sofrimento. Observar uma existência que se esfuma, que apodrece, que petrifica. E não poder fazer nada. E não saber o que fazer. E deixar as lágrimas correr, pois não há alternativa. E adormecer a rezar. E perceber que é o fim. E assistir a esse fim. E, apesar de tudo, amar, mas não poder fazer nada. E carregar no Play e vêr sempre o mesmo filme. Porquê? Porquê esta miserabilidade persistente? Porquê este desgosto de tudo? Porquê esta energia que se espalha e deixa um rasto de destruição, de cinza, de fumo, qual vulcão avassalador que tudo engole?
Calo-me. Há coisas que não se podem dizer. Nem a escrita me ajuda.

quinta-feira, junho 01, 2006

Paralelismos

Há um sentido diferente neste mundo e no outro, que não são que apenas um... Há uma força, uma energia, o mesmo paralelismo... É maravilhoso.

Cansado e sujo, ele levanta-se. Sacode o pó. Segue em frente. Ainda não distingue bem o caminho, os seus passos são incertos e o horizonte não é mais que a palidez de uma imagem baça, mas está ali. Finalmente, reapareceu. À medida que as nuvens avançam, o sol penetra na superfície outrora inacessível dos glaciares. O gelo derrete-se debaixo dos seus pés. A vida. Oh, a Vida. A estação está a alguns passos apenas. O comboio não tardará. Ele percebe que alguém aguarda a chegada do mesmo instante, da mesma carruagem, talvez. Aproxima-se e, pela primeira vez, depois de tanto tempo, sente que não está só.