terça-feira, fevereiro 28, 2006

Um dia de Verão

De bikini às riscas e chapéuzinho amarelo, ela segurava firmemente no balde e no ancinho cor-de-laranja. Ele, a seu lado, levava a pá e um grande sorriso, enquanto corria com passos incertos sobre a areia molhada:
-"Aqui! Ficamos aqui!" - protestava ele, já sem paciência.
Depois de muito creme e de muitas recomendações, corriam felizes pela praia, faziam deliciosos bolos de areia, decorados de conchas e paus:
-"Ummm, estava delicioso!" - exclamava ela, com um olhar maroto, após ter destruído o bolo que ele tinha acabado de fazer.
Estava lançado o pretexto. Ele corria atrás dela e fazia-a rebolar na areia. Ela fazia-lhe o mesmo, de tal forma que já não conseguiam distinguir quem era quem:
-"Pareces um croquete!"
Soltavam gargalhadas sinceras e conseguiam obter o que desejavam: correr para água. Afinal, estavam tão sujos...

Aí, já não eram cozinheiros. Ele era o Popeye e ela a pobre Olívia, que quase morria afogada, com a água do mar a bater-lhe nos joelhos. Ele corria para ela, agarrava-a pelos braços e fazia-a deslizar na água. Ela acreditava que sabia nadar e ria, agarrando-se por fim às pernas dele e atirando-o para dentro de água. Ambos tinham muito medo do mar, mas eram heróis e, por isso, jamais admitiam este ou qualquer outro medo. Partilhavam-no, mas em silêncio, abafado pelos gritinhos infantis que só quem é livre pode soltar.

Última chamada. Já com os lábios roxos e a pele enrugada, continuavam a gritar que não tinham frio, mas já não havia qualquer outra condescendência. Saíam da água, enrolavam-se nas toalhas e sentavam-se, debaixo da barraquinha às riscas azuis e brancas, a saborearem deliciosas sandes de carne, tomate e alface. Que bem que sabiam! Que quentinho estava o sol! Que felicidade sentiam!

À tarde, íam até ao campo e divertiam-se a brincar entre os pinheiros e eucaliptos que, generosos, soltavam um aroma sem igual. Se estavam cansados, deitavam-se no cobertor cor-de-rosa, estendido no chão e, ás vezes, até adormeciam.

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

A Alma do Mundo

No princípio era o redondo. A forma perfeita. A harmonia sublime de todos os sentimentos. A ausência completa de pensamento. O azul. Adão e Eva. A comunhão. Depois veio a força do tridente, que se cravou na rocha. Abriram-se brechas, fendas profundas. Vulcões, placas tectónicas, tremores-de-terra. Furacões, tempestades. Guerras, sofrimento, dor, tristeza. Confusão. E, como o redondo deixou de existir, a perfeição também desapareceu. O que era um passou a ser dois. O que era perfeito passou a revelar defeitos. O que era azul, passou a ser roxo. E depois? Adão e Eva afastaram-se um do outro e com eles dividiu-se a Alma do mundo. O pensamento começou a colocar questões: "Porquê?", "Quem sou eu?", "Que sentido tem isto para a minha vida?", "O que é a vida?". Os sentimentos, outrora peças indissociáveis que revestiam o redondo, quebraram-se, subdividiram-se. O que antes era Amor passou a ser carinho, respeito, amizade, sinceridade, lealdade, solidariedade. Mas, como o tridente deixou marcas de sangue nesta camada tão sensível do redondo, os sentimentos não só se subdividiram, como ficaram desorientados. Revestiram-se também de pensamento. Viraram-se para dentro e descobriram que, na confusão que se tinha instalado, já não havia motivos para estarem unidos, para fazerem parte de um todo. Então, tornaram-se egoístas e inventaram os seus contrários - o ódio, a vingança, a inveja, a dor, a traição. Inventaram-nos pois estavam livres, queriam experimentar-se. Podiam pensar. Que grande riqueza! Mas, o que correu mal foi a continuidade obrigatória de Adão e Eva. Se tivessem sucumbido à força do tridente, a confusão acabaria por se auto-aniquilar. Mas, não foi assim. Adão e Eva afastaram-se, mas tiveram de saber gerir a confusão, pois foi a eles que o tridente mais feriu de pensamento. Então, Adão e Eva descobriram que o redondo tinha existido. Mas, já era tarde demais. Estavam condenados.

Porém, não percamos a esperança. Somos guerreiros, também condenados, mas enquanto herdeiros do inevitável património de Adão e Eva, que não é senão eles mesmos, fazemos parte da Alma do mundo, do redondo, do sublime, da perfeição. É por isso que existem Almas Gémeas. É por isso que dois, por vezes, se tornam um e não sabem porquê. É por isso que existem orgasmos, não só na união dos corpos, mas sobretudo na união de mentes. Assim, nasceram a literatura, a pintura, a música. Assim nasceu o diálogo construtivo e a inegável compatibilidade entre seres. Assim, nasceram actos de uma pureza que não parece "deste mundo". E, quando um destes encontros se dá, a Alma do mundo reconstrói-se. A grande maravilha, o maior dos tesouros é quando deixamos que estes encontros permaneçam durante toda a nossa vida. Isso pode acontecer entre o artista e a sua obra. Ou entre dois amantes. Ou entre dois irmãos. Ou entre um homem e a natureza que o rodeia. Ou até mesmo entre a solidão e a palavra amiga, no momento certo. Desde que tenhamos a certeza que as peças encaixam. Ah, e como é bela essa certeza! Ela implica a rejeição de tudo o resto, a miséria, a insegurança. Mas, é a certeza que vale a pena. É a ínfima união de duas peças outrora distantes que é a Verdade, a única Verdade! O tridente já não volta, mas deixou a sua marca. Não podemos negá-la nem vencê-la, mas podemos combatê-la, pouco a pouco, com as nossas armas azuis, com a parte de nós que ainda se mantém inteira. Assim, aproveitemos cada encontro de peças para soldar a Alma do mundo. Vale a pena. É a grande luta. Ficarão sempre algumas peças perdidas, mas aquilo que reconstruímos hoje será o património dos que vierem, assim como nós o recebemos de Adão e Eva e dos que os seguiram.
Sejamos verdadeiros, pois todos encontramos, mais cedo ou mais tarde, uma ou mais peças que encaixam. É difícil, mas devemos soldá-las. É imperativo, pois as marcas do tridente deixam feridas cada vez mais numerosas e profundas. Devemos a nós mesmos essa re-união.

domingo, fevereiro 26, 2006

2004

Uma "cafézada" em qualquer parte do mundo?

sábado, fevereiro 25, 2006

(outro) Mundo em Paralelo

Sentei-me a um canto, acendi um cigarro e pedi um copo.
Perdi-me num pensamento profundo e deixei-me ficar a tentar encher a cabeça de algo diferente que pensamentos.
Senti-os entrar, eram dois e soltavam gargalhadas sonoras, sentaram-se e pediram dois copos, acendeu-se uma chama e uma conversa.
Ela sentou-se de costas para o relógio que entretanto parou. Não foi ele que o mandou parar, mas agradeceu. Trocaram copos e palavras numa linguagem que não entendi. Contaram confidências que escutei atentamente sem perceber.
Talvez fossem estrangeiros que ali se tinham acomodado.
Deixei-me ficar a tentar acompanhar, e deixei de ver os dois que ali se tinham sentado, via apenas uma alma e dois sorrisos, um olhar cúmplice que não consegui desvendar e muitas palavras trocadas. Partilharam um silêncio demasiadamente longo que não os incomodou.
Fascinou-me.
Entenderam-se num gesto só, tocaram-se e afastaram-se. Trocaram vidas e incendiaram-se por dentro. Ele ficou sem jeito e ela sem reacção. E entre instantes libertaram-se e deixaram-se voar. Não consegui acompanhar a conversa que avidamente partilhavam, demasiadamente pessoal, demasiadamente corporal, demasiadamente única. Deixei de tentar perceber e apenas fiquei a observar. Não os vi aborrecerem-se nem discordar, era um só fio que os agarrava ali.
Vi cores e sabores, pedaços perdidos e brilhos profundos.
Não os vi ficar impacientes para acabar a tal conversa em dialecto próprio, nada os incomodava. Deixaram-se ficar em sorrisos perdidos e lágrimas rebeldes. Perderam a noção do que eram para serem quem realmente eram. Deixaram de se enganar para o mundo e conquistaram um apenas deles. Ele partilhou uma ideia fugaz, (pelo menos pela forma como pronunciava as frases, que da conversa não entendi uma única palavra) e ela aceitou. Partilharam um sonho e voltaram à realidade, mas aquele tempo era só deles e viu-se o gesto de quem tenta voar novamente. E voltaram a partir, para onde não sei, deambularam durante horas que não existiram, em pensamentos recorrentes que não se negavam a partilhar, deixaram-se ficar sem pensar que existia algo mais que eles.
Perderam-se e encontraram-se.
Acreditaram e ficaram durante o tempo que se tinham permitido...
Vi-os levantar e sair.
Eu fiquei, perdido num pensamento profundo, com um copo já vazio e um cigarro aceso.
Entraram dois. Saíram dois. Mas à minha frente vi apenas um.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

a vila da Vida

Ainda se sentia a geada da manhã quando sairam de casa, o rapaz acompanhava-o para um destino comum. Perdiam-se em silêncios improvisados e conversas banais, o rapaz estava ali e sentia-se em liberdade consigo mesmo. São poucos os instantes em que se sente assim. Ele, estava ali porque era mesmo preciso, e controlava muitas vezes uma lágrima que lhe teimava em aparecer no olho, era de um outro tempo e as emoções reprimiam-se. Habituou-se e sobreviveu. Mas em momentos passageiros o gesto expontâneo de um pequeno abraço ou mesmo aquela lágrima, sempre aquela lágrima, aparecia e deixava-se embalar. O rapaz é de outra geração. Esboça um sorriso e pouco mais. Por dentro sabe que está disposto a parar o mundo por ele. Deixa isso para si. É prudente. Dá-se de corpo e alma, e demonstra-o em pequenos sorrisos. Desperta uma lágrima escondida. Sempre aquela lágrima.
Destinos e afazeres resolvidos. Aborrece-se por uma causa. Assiste como espectador impotente a um espectáculo deprimente. Está habituado. A cara sem qualquer sentimento. Foi habituado. O corpo a pedir guerra. A razão a detê-lo. Vai-se habituando. Ainda é novo.
Regressam à velha paragem de camionetas, ali, bem no centro da grande cidade. Repletas de pessoas, acotovelando-se, passando injurias e ideais. É o peso da civilização.
Mas há um estado de alma que mudou. Não se sabe bem porquê. Mas apercebem-se. É um laço que os une. Hoje. Amanhã. Sempre. Ambos têm dificuldade em falar. Não se nota. Há uma cumplicidade que não se compreende, nem se tenta. Não há dependência. Fascina-os.
Num gesto rasgado ele atravessa a paragem. Puxa o jovem por um braço. E num sorriso perfeito aponta para a frente:
- É ali a vila Rosa. Eu nasci ali. Este prédio é novo. Este outro já existia. Era uma fábrica de doces. Isto é tudo novo. Mas ali nasci eu. É a vila Rosa.
A lágrima escorreu-lhe pela cara sem que qualquer gesto a detivesse, e, ao cair no chão encontrou companhia. Era a lágrima do jovem que também lhe tinha fugido.
Sempre aquela lágrima.
E num movimento impreciso cruzaram-se os olhos e os silêncios.
Ambos têm dificuldade em falar. Não se nota.

Uma história para a Estrelinha

Vou contar-te uma história, Estrelinha. Quando eu era pequenina, eras tu que me contavas histórias. Agora, quero retribuir-te:

Era uma vez um menino e uma menina que viviam numa linda casinha, onde cheirava sempre a comida da avó e a alegria. Gostavam de brincar, mas passavam a maior parte do tempo zangados um com o outro:
-"Ele bateu-me", protestava ela.
-"És mesmo parva!", acusava ele.
Andavam à tareia, faziam as pazes, voltavam a zangar-se. Que grande confusão havia naquela casa!
Quando chegava à noite, porém, adormeciam como dois anjos, velados pelo Amor dócil do céu estrelado.

Às vezes, chovia. Estas eram as piores noites, pois a menina detestava chuva e tinha medo da trovoada. Sabes o que faziam os meninos, Estrelinha?
Às escondidas, íam ao armário das bolachas, pegavam numa velha lanterna do menino e num rádio roufenho do avô e punham-se debaixo dos cobertores, a ouvir aquela música sem dó nem ré e a contar anedotas um ao outro, até adormecerem. Só assim esqueciam a chuva, a trovoada e o frio que fazia lá fora.

Sabes, Estrelinha, ainda hoje os meninos, que agora já cresceram, contam histórias um ao outro, para aquecerem os corações e esquecerem as tempestades que passam, às vezes, lá fora.

Boa Noite, Estrelinha!

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Centro da Europa

Há momentos em que nos sentimos bafejados pela sorte, conduzidos à melhor das direcções, levados a experimentar o mais fino dos sabores.

- "Estou no centro da Europa, caramba!" Pessoas vindas de todas as partes do mundo, administração central que funciona, prazos e horários sempre cumpridos, línguas diferentes, ensino de top, mercado de trabalho promissor, nível de vida bem acima da média europeia. Mas, ainda mais, muito mais: governo e população liberais, relações inter-geracionais e inter-culturais de uma riqueza sublime.

Mas, há momentos em que a expressão caramba, único elemento da nossa querida lusofonia que exprimi no pensamento anterior, passa a ser a única que faz sentido.

1ª versão da história:

Nove horas da noite. Noite cerrada e noite gelada.

Senhora idosa perde a carteira (que, mesmo se estivesse vazia, não deixaria de ter um valor inestimável para a sua proprietária).
Jovem marroquino, de dimensão de mebros inferiores privilegiada, deixa um rasto de maldade (ou será ignorância?) nas ruas por onde corre, segurando firmemente o objecto do seu acto.
Senhora idosa grita, mas fenómeno do século vinte e um demonstra a sua eficácia: ninguém a ouve. Carros que passam, aviões que levam gente para longe, autocarros que deixa outra gente mais perto. Jovens desligados do mundo através da música, outros através dos pensamentos - fartos de problemas já nós estamos!
Mas, senhora idosa (talvez porque seja idosa e já não pertença a este mundo) não desiste. Corre, grita.
De repente, uma luz ao fundo do túnel. Um carro espera que alguém entre junto a uma paragem de autocarros, para prosseguir a sua viagem.
A senhora corre até ao detentor desta magnífica bóia de salvação. Suplica-lhe que a deixe entrar e que sigam o rasto deixado pelo jovem delinquente.
Não custa nada. Apenas alguns metros os separam daquilo que pertence à senhora e que (por engano?) foi levado por outro alguém.

Conclusão:
Senhora idosa quase perde a vida, sendo brutalmente arrastada ao tentar agarrar-se à viatura que a poderia ter salvo, mas que parte bruscamente.

Senhora idosa continua a correr, tentando em vão ainda vislumbrar os seus pertences.

Senhora idosa volta para casa. Chora, mas sem rancor. Só chora, pois não pode fazer mais nada.

2ª versão da história:

"Que chatice! Já é tão tarde e só agora pude deixar o cocktail! Enfim, assim tem de ser, se queremos fazer avançar a Europa!"

"Ainda bem que a casa da Joanne fica a caminho!"

Mary acena-lhe de longe.

Como só um frequentador das boas normas de cavalheirismo seria capaz, ele sai do carro e abre a porta, para que Mary entre.

Gritos? "Não, devem ser estes bandos de jovens de cabeça vazia que costumam juntar-se para praticar a arte do skate!"
"Mas, o que é isto? Uma velha a agarrar-se ao meu carro? Deve estar louca!"
- "Vamos, Mary, depressa!"

-"Como foi o teu dia, chérie?"

Conclusão da história:

Chegam a casa. Três belos exemplares arianos esperam a meia hora que os pais lhes concedem, antes de adormecerem.
Nem mais uma palavra, nem mesmo um pensamento sobre a senhora idosa. Afinal, há grandes causas a defender no dia seguinte.



Presenciei esta cena da sexta-feira, querido mano. Pensei em ti. Tu e eu sabemos porquê.

Afinal, o centro da Europa não fica assim tão longe dos cantos. Caramba!

domingo, fevereiro 19, 2006

lentamente...

Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
a um turbilhão de emoções indomáveis,

justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!

Pablo Neruda

sábado, fevereiro 18, 2006

Tudo o que eu te dou

Já foi cantada a duas vozes, em dois tons, em dois acordes.
Já foi balbuciada a um só acorde, num só tom, numa só voz.
Eu não sei, que mais posso ser
um dia rei, outro dia sem comer
por vezes forte, coragem de leão
as vezes fraco assim é o coração
eu não sei, que mais te posso dar
um dia jóias noutro dia o luar
gritos de dor, gritos de prazer
que um homem também chora
quando assim tem de ser

Foram tantas as noites sem dormir
tantos quartos de hotel, amar e partir
promessas perdidas escritas no ar
e logo ali eu sei...

Tudo o que eu te dou
tu me das a mim
tudo o que eu sonhei
tu serás assim
tudo o que eu te dou
tu me das a mim
e tudo o que eu te dou

Sentado na poltrona, beijas-me a pele morena
fazes aqueles truques que aprendeste no cinema
mais peço-te eu, já me sinto a viajar
para, recomeça, faz-me acreditar
"Não", dizes tu, e o teu olhar mentiu
enrolados pelo chão no abraço que se viu
é madrugada ou é alucinação
estrelas de mil cores, ecstasy ou paixão
hum, esse odor, traz tanta saudade
mata-me de amor ou da-me liberdade
deixa-me voar, cantar, adormecer

Tudo o que eu te dou
tu me das a mim
tudo o que eu sonhei
tu serás assim
tudo o que eu te dou
tu me das a mim
e tudo o que eu te dou

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

um só Universo

Perderam-se numa avenida qualquer, não tinham destino nem sequer um rumo, apenas a certeza que se amavam e que caminhariam juntos para um qualquer paraiso reinventado. A utopia de um sonho que lhes toldava a mente era tudo o que bastava para vencerem no mundo paralelo à realidade que os acolhia.

Escolhiam pormenorizadamente o presente esquecendo o futuro. Que esse não se escolhe, nasce sozinho. E era esse presente que iluminava o céu que os acolhia todas as noites, sempre estrelado, sempre azul, sempre diferente. - Tudo se renova a cada instante - diziam e acreditavam. E foi sempre nessa fantasia que fizeram do irreal o mais puro amor... o incondicional....


Deixaram-se voar sem nada temer, porque não havia nada para além deles...

Mundos Paralelos

"Basta aquela estrela" - disse o pastor.
"Não, sigamos antes a lua" - disse a princesa.
A princesa e o pastor queriam chegar. O mais depressa possível. Mas, o caminho deles separava-se ali.
"Adeus" - disse o pastor.
"Adeus" - disse a princesa.

Passaram anos. Passaram décadas. E o pastor continuava a seguir a estrela. E a princesa, a lua. Amavam-se, mas tinham decidido tomar direcções opostas. Ou apenas paralelas. Quem sabe?
No fundo, não importa, pois o céu, que só às estrelas e à lua pertence, continuou a ser o mesmo, abrigando-os aos dois, acolhendo-os na mesma certeza de que um dia se reencontrariam, pois o mundo é redondo e o Amor só acontece uma vez.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Assim nasceu...

Abre-se uma folha em branco, e polvilha-se de cor, de instantes e pedaços, de palavras e dos seus sabores. São laços que perduram sempre, em mundos paralelos, em momentos fugazes, entre amantes das letras, entre irmãos...

Assim nasceu...

Criado no dia dos namorados, dia de Amor, dia de comemoração. Criado com Amor, para comemorar eternamente a união de dois irmãos unidos para além do tempo, para além do espaço, em paralela comunhão de mundos individuais...