Centro da Europa
Há momentos em que nos sentimos bafejados pela sorte, conduzidos à melhor das direcções, levados a experimentar o mais fino dos sabores.
- "Estou no centro da Europa, caramba!" Pessoas vindas de todas as partes do mundo, administração central que funciona, prazos e horários sempre cumpridos, línguas diferentes, ensino de top, mercado de trabalho promissor, nível de vida bem acima da média europeia. Mas, ainda mais, muito mais: governo e população liberais, relações inter-geracionais e inter-culturais de uma riqueza sublime.
Mas, há momentos em que a expressão caramba, único elemento da nossa querida lusofonia que exprimi no pensamento anterior, passa a ser a única que faz sentido.
1ª versão da história:
Nove horas da noite. Noite cerrada e noite gelada.
Senhora idosa perde a carteira (que, mesmo se estivesse vazia, não deixaria de ter um valor inestimável para a sua proprietária).
Jovem marroquino, de dimensão de mebros inferiores privilegiada, deixa um rasto de maldade (ou será ignorância?) nas ruas por onde corre, segurando firmemente o objecto do seu acto.
Senhora idosa grita, mas fenómeno do século vinte e um demonstra a sua eficácia: ninguém a ouve. Carros que passam, aviões que levam gente para longe, autocarros que deixa outra gente mais perto. Jovens desligados do mundo através da música, outros através dos pensamentos - fartos de problemas já nós estamos!
Mas, senhora idosa (talvez porque seja idosa e já não pertença a este mundo) não desiste. Corre, grita.
De repente, uma luz ao fundo do túnel. Um carro espera que alguém entre junto a uma paragem de autocarros, para prosseguir a sua viagem.
A senhora corre até ao detentor desta magnífica bóia de salvação. Suplica-lhe que a deixe entrar e que sigam o rasto deixado pelo jovem delinquente.
Não custa nada. Apenas alguns metros os separam daquilo que pertence à senhora e que (por engano?) foi levado por outro alguém.
Conclusão:
Senhora idosa quase perde a vida, sendo brutalmente arrastada ao tentar agarrar-se à viatura que a poderia ter salvo, mas que parte bruscamente.
Senhora idosa continua a correr, tentando em vão ainda vislumbrar os seus pertences.
Senhora idosa volta para casa. Chora, mas sem rancor. Só chora, pois não pode fazer mais nada.
2ª versão da história:
"Que chatice! Já é tão tarde e só agora pude deixar o cocktail! Enfim, assim tem de ser, se queremos fazer avançar a Europa!"
"Ainda bem que a casa da Joanne fica a caminho!"
Mary acena-lhe de longe.
Como só um frequentador das boas normas de cavalheirismo seria capaz, ele sai do carro e abre a porta, para que Mary entre.
Gritos? "Não, devem ser estes bandos de jovens de cabeça vazia que costumam juntar-se para praticar a arte do skate!"
"Mas, o que é isto? Uma velha a agarrar-se ao meu carro? Deve estar louca!"
- "Vamos, Mary, depressa!"
-"Como foi o teu dia, chérie?"
Conclusão da história:
Chegam a casa. Três belos exemplares arianos esperam a meia hora que os pais lhes concedem, antes de adormecerem.
Nem mais uma palavra, nem mesmo um pensamento sobre a senhora idosa. Afinal, há grandes causas a defender no dia seguinte.
Presenciei esta cena da sexta-feira, querido mano. Pensei em ti. Tu e eu sabemos porquê.
Afinal, o centro da Europa não fica assim tão longe dos cantos. Caramba!
- "Estou no centro da Europa, caramba!" Pessoas vindas de todas as partes do mundo, administração central que funciona, prazos e horários sempre cumpridos, línguas diferentes, ensino de top, mercado de trabalho promissor, nível de vida bem acima da média europeia. Mas, ainda mais, muito mais: governo e população liberais, relações inter-geracionais e inter-culturais de uma riqueza sublime.
Mas, há momentos em que a expressão caramba, único elemento da nossa querida lusofonia que exprimi no pensamento anterior, passa a ser a única que faz sentido.
1ª versão da história:
Nove horas da noite. Noite cerrada e noite gelada.
Senhora idosa perde a carteira (que, mesmo se estivesse vazia, não deixaria de ter um valor inestimável para a sua proprietária).
Jovem marroquino, de dimensão de mebros inferiores privilegiada, deixa um rasto de maldade (ou será ignorância?) nas ruas por onde corre, segurando firmemente o objecto do seu acto.
Senhora idosa grita, mas fenómeno do século vinte e um demonstra a sua eficácia: ninguém a ouve. Carros que passam, aviões que levam gente para longe, autocarros que deixa outra gente mais perto. Jovens desligados do mundo através da música, outros através dos pensamentos - fartos de problemas já nós estamos!
Mas, senhora idosa (talvez porque seja idosa e já não pertença a este mundo) não desiste. Corre, grita.
De repente, uma luz ao fundo do túnel. Um carro espera que alguém entre junto a uma paragem de autocarros, para prosseguir a sua viagem.
A senhora corre até ao detentor desta magnífica bóia de salvação. Suplica-lhe que a deixe entrar e que sigam o rasto deixado pelo jovem delinquente.
Não custa nada. Apenas alguns metros os separam daquilo que pertence à senhora e que (por engano?) foi levado por outro alguém.
Conclusão:
Senhora idosa quase perde a vida, sendo brutalmente arrastada ao tentar agarrar-se à viatura que a poderia ter salvo, mas que parte bruscamente.
Senhora idosa continua a correr, tentando em vão ainda vislumbrar os seus pertences.
Senhora idosa volta para casa. Chora, mas sem rancor. Só chora, pois não pode fazer mais nada.
2ª versão da história:
"Que chatice! Já é tão tarde e só agora pude deixar o cocktail! Enfim, assim tem de ser, se queremos fazer avançar a Europa!"
"Ainda bem que a casa da Joanne fica a caminho!"
Mary acena-lhe de longe.
Como só um frequentador das boas normas de cavalheirismo seria capaz, ele sai do carro e abre a porta, para que Mary entre.
Gritos? "Não, devem ser estes bandos de jovens de cabeça vazia que costumam juntar-se para praticar a arte do skate!"
"Mas, o que é isto? Uma velha a agarrar-se ao meu carro? Deve estar louca!"
- "Vamos, Mary, depressa!"
-"Como foi o teu dia, chérie?"
Conclusão da história:
Chegam a casa. Três belos exemplares arianos esperam a meia hora que os pais lhes concedem, antes de adormecerem.
Nem mais uma palavra, nem mesmo um pensamento sobre a senhora idosa. Afinal, há grandes causas a defender no dia seguinte.
Presenciei esta cena da sexta-feira, querido mano. Pensei em ti. Tu e eu sabemos porquê.
Afinal, o centro da Europa não fica assim tão longe dos cantos. Caramba!
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