sexta-feira, maio 04, 2007

Tranquilidade

E um dia, veio a Vida bater-lhe à porta. Trazia um ramo de flores amarelas e uma borboleta no ombro. Com um vestido cor de arco-íris, vinha buscá-lo, decidida a fazê-lo feliz. Bateu à porta. Nem um ruído, vindo do interior. Voltou a bater, desta vez com mais força. Sorriu e aguardou. Nada. Aguardou mais um pouco. Olhou ao seu redor e deixou a brisa suave daquela tarde de Primavera tocar-lhe os longos cabelos pretos e trazer-lhe memórias de outrora. Recordou danças à chuva, chuvas de estrelas, passeios na montanha. Sempre a seu lado.
Deixou as margaridas junto à porta e partiu. Ele ficou a ouvi-la afastar-se e voltou a enterrar a cabeça na superfície macia da almofada. Estava seguro. Não voltaria a ver o mar, a ouvir os pássaros ou a sujar-se de gelado. Não voltaria a correr na praia ou a dar de comer aos pombos, naquela praça cheia de crianças sorridentes. Não voltaria a passar horas ao telefone, escoando banalidades ou partilhando sonhos impossíveis. Não voltaria a sentir-lhe o perfume de alfazema, nem a acariciar o seu rosto. Não voltaria a entrançar-lhe o cabelo nem a colher margaridas, a seu lado. Não voltaria a ser feliz. Mas, pelo menos, estava seguro. Ali, não havia dúvidas, incertezas, loucuras. Ali, nada poderia atingi-lo. As preocupações não existiam, o tempo deixara de passar. A tranquilidade era uma amante mais compreensiva, sem impulsos ou exigências. Era assim que queria ficar: pálido, quieto, morto.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Finalmente a vida fez-te recordar momentos de outrora...
Tambem eu os recordo... Foram momentos de felicidade... de alegria... de Amor... de Intensidade...
Mais do que recordar esses momentos, recordo a pessoa com os quais os partilhei, porque ela é e será sempre a razão desses momentos terem sido tão especiais...
Gosto muito de ti Ligia

8:45 da tarde  

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