terça-feira, outubro 17, 2006

O instante seguinte

Entraste com a ligeireza de uma brisa de Verão e sorriste. Senti um arrepio a percorrer-me o corpo e estendi-te os braços. Os meus dedos tocaram a superfície fria e indiferente do muro transparente que nos separava. O teu olhar continuava perdido algures, numa distância que dificilmente conseguia percorrer. Procurei desesperadamente uma passagem, cerrei os punhos e bati violentamente na única fronteira que nos separava e senti o calor do sangue a misturar-se com a frieza cruel daquela parede. Não podia ser. Estavas ali, perfeito. Voltaste a sorrir e olhaste-me nos olhos. Deixaste o horizonte distante, ao qual me tinhas habituado e viste-me. Senti-me nua. Senti-me tua, mais do que nunca. Partículas de sonhos, desejos, anseios foram expelidas por um coração repleto de alegria, um coração cansado que ganhou, no instante em que o teu olhar me penetrou, a energia infinita de um Amor que ansiava desde sempre poder falar, exprimir-se, libertar-se. Fiquei desesperada, pois queria tocar-te, queria unir-me a ti naquele momento, sem a dúvida do momento seguinte, sem qualquer questão, sem qualquer resposta. Caí de joelhos no chão e chorei. Chorei e gritei. Não compreendia porque tinha de viver sempre sem ti, não queria compreender, queria apenas Amar. Queria apenas ser Feliz. Os meus prantos eram-me devolvidos pela solidão que me rodeava e esqueci-me de ti. Só queria afastar a minha tristeza e respirar. Respirar e ser Feliz. Ser Feliz. Procurei-te, minutos depois, atrás do vidro. Vi-te voltar as costas e partir. Transformei-me num misto de sal, suor e sangue. O meu rosto desfigurado continuava a pronunciar o teu nome, mas o meu espírito já não estava ali. Tinha partido com a utopia de uma felicidade que jamais existira, a não ser no egoísmo deste amor que tão poucas vezes havia sido Amor incondicional, Amor, Amor. Ficava apenas o teu olhar, única verdade daquela tarde assassina, no palco da qual a incompreensão tinha sido a actriz principal.
Deixa-me compreender-te ainda, meu Amor. Compreender o silêncio do teu olhar, a raridade do teu sorriso, as lágrimas que escondias quando partias. Mostrar-te que já sei que tu existes, para além de qualquer barreira e que voltei a juntar as partículas que fizeste explodir e que quero oferecer-tas e que quero voltar a ver-te sorrir.
Sento-me junto ao mesmo muro de vidro, através do qual te vi olhar-me pela primeira vez, através do qual te vi partir, através do qual espero ver-te regressar. Espero que a força dos teus punhos venha juntar-se à dos meus e que esta barreira desapareça enfim... Porque te Amo e porque te conheço, enfim. Porque te Amo e porque te quero. Porque te Amo e porque acredito.
L'important c'est d'aimer pour tout donner. Pardonne-moi.