segunda-feira, outubro 09, 2006

Adeus

E eu não sabia o que ia acontecer, mas o coração insistia em recordar-me que estava ali, com uma energia rara, naquele dia. Aguardei ansiosamente o bater da porta e a viagem (mais uma!). Cheguei. Houve uma breve troca de palavras e uma t-shirt preta que se colou à memória, para juntar-se àqueles pequenos nadas a quem caberá um dia contar a história. Outro monossílabo encerrou o tempo e a viagem. Regresso a casa. Noite em claro. Malditas dores de garganta, que parecem trepar à cabeça e atirar-se lá de cima, deixando no corpo uma sensação de fraqueza constante. Amanheceu. Voltou a amanhecer mais tarde, quando de novo acordei. E lá estavas tu outra vez. A partir daí, nunca mais deixaste de estar. E eu habituei-me à tua presença. E quis-te para sempre. E quero-te para sempre. E depois Amei-te. Amei-te no olhar, no sorriso, na palavra calada. Amei-te na t-shirt preta, desde o pirmeiro instante e ainda mais quando a tive na mão. Amei-te no beijo, nos passeios junto à foz, nas mensagens, no coração a bater junto ao meu. Amei-te nessa tua fuga diária, que deixa sempre um rasto do teu perfume e do teu mistério; Amei-te na tua teimosia, no teu carinho, no teu silêncio de compreensão. Amei-te na tua simples existência; Amei-te no teu passado, no teu presente; depois Amei-te no nosso presente e quis Amar-te no nosso futuro também.
Senti um arrepio e cobri-me melhor. O frio que fazia lá fora acabara por deixar-me numa espécie de sonolência consciente, mas voltei a vislumbrar o teu rosto. Voltei a sonhar e lá estavas tu, mas desta vez sem a t-shirt preta. Dizias-me adeus, mas não mexias os lábios. As nosssas lágrimas confundiam-se e uma nuvem espessa de fumo envolvia-nos, impedindo o reconhecimento mútuo. Eu já não sabia quem era. Tu não sabias quem eras. Passado? O passado já não existia, pois tinha-se diluído nos fiapos de fumo que nos arrancavam pensamentos, sentimentos, memórias. A certeza, que tinha caminhado tantas vezes de mãos dadas connosco, abandonava-nos dolorosamente. O Amor? Esse via-o a observar-nos de longe, risonho, à espera de um passo na sua direcção, mas não sem menos dúvidas que nós.
Acordei sobressaltada. A minha respiração ofegante, rodeada do eco da noite, confirmava-me momentaneamente que tudo não passara de um pesadelo. No entanto, percebi no momento seguinte que, efectivamente, a minha respiração já só estava rodeada do eco da noite. E a tua? Porque não a escutava também? Apressei-me a acender a luz e lá estava a almofada, ainda impregnada do teu cheiro, mas já tão só quanto eu. E assim o pesadelo se fez realidade e a realidade, pesadelo.
De repente, ouvi um ruído do outro lado da porta. Voltei-me e pude observar o fumo espesso que penetrava no meu quarto, vindo de todos os cantos, da janela, das paredes, do tecto, do chão...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

As tuas palavras vieram até mim (ou fui eu q vim até elas) no momento certo, a acreditar q existem momentos assim.

E quase ... sempre ficar presa ao quase ...

1:46 da tarde  

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