E se ousássemos?
A aprendizagem da vida é capaz de ser o maior desafio da própria vida. Aprendemos a andar, a falar, a exigir o que queremos. Mais tarde, aprendemos a ler, a escrever, a contar e a contar histórias. Ainda um pouco mais tarde, aprendemos que estas histórias podem servir-nos a criar a nossa dimensão alternativa, para onde poderemos fugir quando a vida tenta acordar-nos. Às vezes, porém, quando a vemos espreitar pela janela, como uma criança endiabrada, procuramos a porta da nossa dimensão, para fugirmos o mais depressa possível, mas com a atrapalhação, já nem sabemos onde a deixámos. Isso porque esta dimensão é criada por nós, é fictícia e apenas se move quando a fazemos mover. A vida, não. Ela obriga-nos a correr à chuva e a queimar a pele debaixo de um sol ardente. Mas, também é a vida que nos dá as árvores para nos abrigarmos e a água do mar para nos refrescarmos. Mesmo assim, preferimos não correr riscos e deixamo-nos estar na nossa dimensão a explorar a única faceta de nós mesmos que conseguimos controlar: se gostamos de escrever, escrevemos até à exaustão, mesmo quando temos fome, sede, ou vontade de ír ao cinema; se gostamos de conversar, falamos durante horas a fio, sem nos apercebermos que a pessoa à nossa frente já adormeceu; se temos trabalho, afundamo-nos nele, com medo de telefonar a alguém que está do outro lado do mundo, colado ao telefone, à espera do nosso sinal para ser feliz. Mas, é muito mais fácil estar nesta dimensão, pois o que fazemos, fazemos bem, mesmo que seja pouco. Dar a mão à vida e deixarmo-nos ír na grande montanha-russa é demais. Há o olhar reprovador dos outros, as regras sociais, as nossas inseguranças, a inércia. Tantas barreiras! Para quê? Mais vale ficar aqui sentado, a lêr o meu livro porque, pelo menos, ele não me faz perguntas. Mas, também não nos dá respostas, se tivermos medo de fazer as perguntas.
E se ousássemos?
E se ousássemos?
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