quinta-feira, março 16, 2006

uma menina...

Conheci um dia uma menina.
Era pequenina e rechonchuda como todas as crianças amadas e alegres. De faces rosadas fazia traquinisses durante todo o dia e depois, inocentemente, fazia uma expressão de anjo que ninguém resistia. E essa menina foi crescendo, dia após dia, transmitindo alegria e paz a quem a rodeava.
A menina tornou-se adolescente e conquistou o seu próprio espaço no mundo, distinguiu amigos de conhecidos, apaixonou-se e fez loucuras. Distribuia alegria e um pouco de si com quem se cruzava, entregou-se a projectos e a sonhos.
Na flor da juventude acreditou em ideais utópicos. Partilhou de sonhos que não lhe pertenciam, arriscou-se por eles, mesmo sem acreditar plenamente nos seus fundamentos. Distribuia sorrisos e uma palavra fraterna sem condicionalismos. Acarinhada pelos habitantes do mundo, deixou-se levar pela alegria.
Mas à noite, no frio de um quarto branco, chorava. À noite não se refugiava num abraço sentido ou em uma palavra feliz. Quando o silêncio chegava sentia-se só. Partilhava de sonhos que não lhe pertenciam e tinha deixado morrer os seus. Ninguém se apercebia. A máscara que envergava era gélida e pálida mas tinha um sorriso pintado. Para os demais era o que bastava.
A adolescente um dia cresceu, e numa manhã solarenga acordou para um mundo que já não a satisfazia. A almofada ainda molhada da noite anterior mostrava-lhe as réstias de si própria. Não havia como fugir, não adiantava mais. Nunca se conseguiria perdoar.
E num gesto rasgado bateu com a porta. Colocou sonhos e lágrimas numa só balança. Pesaram mais os sonhos. Construiu durante algum tempo uma caixinha cor-de-rosa para colocar o seu coração enquanto decidia se as nuvens seriam suficientes para a sustentar.
Deixou a racionalidade que lhe era caracteristica agir. Largou o seu mundo e a ilusão de o conseguir mudar. Os amigos e os amores. A paz e o lar. Voou para um destino incerto entre lágrimas e confiança. Já não tinha a certeza de as nuvens a conseguirem sustentar, e, durante instantes, pediu para regressar.
Não regressou.
Havia algures uma Estrela que lhe indicava o caminho. Com o passar dos tempos a menina-mulher conseguiu abrir a caixinha cor-de-rosa e voltar a colocar o coração no seu devido lugar. Empenhou-se em si e descobriu novos horizontes para si própria. Havia sempre uma raiz no seu devido lugar, isso bastava-lhe para que avançasse.
Hoje essa mulher tem sonhos e realidades, tem o mundo e concede aos demais um espaço nele. Hoje essa menina transmite paz, alegria e confiança a quem com ela se cruza. Hoje essa menina-mulher ainda chora por amor e fica com as faces rosadas quando faz traquinisses.
Hoje é o meu exemplo! Hoje sei que estaremos Sempre Unidos. Hoje sei porque existem Mundos em Paralelo... E hoje...hoje enviou-me um Girassol...