segunda-feira, maio 22, 2006

Parabéns, Estrelinha!

O tempo passa, mas o seu rasto ainda nos acompanha, quem sabe por toda a eternidade. Porquê? Porque o tempo é fruto daquilo que fazemos com ele e, breves segundos apenas, transformam-se num carácter, num ser, numa imagem que teima em ficar. A Vida não tem qualquer valor para além destes breves segundos.
Minha Estrelinha eterna, recordo o teu rosto, como se estivesse a vê-lo diante de mim. Recordo a textura do teu cabelo cinzento, quando costumava penteá-lo e pôr-lhe laca. Recordo a tua foto, "quando ainda eras gente", tão linda, tão pura, tão digna do teu nome.
Quando eu e o Bé ríamos das caras engraçadas que fazias ou quando fugíamos a sete pés, pois estavas zangada... Quando te contava histórias pela noite dentro e obrigavas o avôzinho a ouvi-las, pois "a menina já sabia lêr"... Quando passavas noites em claro a enfeitar os meus cadernos... Quando me obrigavas à perfeição, pois acreditavas em mim... Quando passaste meses a fio a repetir a todos os vizinhos a mesma frase da professora Odete: "se a menina não passasse de ano, ninguém passava"... Quando eu e o Bé competíamos a descascar ervilhas ou feijão, a teu lado... São instantes assim, querida mãzinha, que nunca abandonarão a minha memória, pois fazem parte da pessoa que sou hoje. Aliás, eles são a pessoa que sou hoje, pois poucos acontecimentos me influenciaram tanto como tudo aquilo que me ensinaste! Mal sabias tu o quanto estavam a ser preciosos os doze anos que vivemos contigo...
Chorei ainda muito tempo. Agora, recordo-te com muito carinho e vejo-te da minha janela, quase todas as noites. Sei que temos errado muito, mas sinto que estás orgulhosa de mim e do Bé, pois foste a única que sempre acreditou em nós, incondicionalmente. Sabes, não deixaste que nos separássemos, quando não podíamos defender-nos. Hoje, continuamos "sempre unidos". Este é o meu presente de aniversário para ti - a nossa união, como sempre o desejaste.
Dentro de alguns dias, querida Estrelinha, estarei a celebrar a Primeira Comunhão das crianças do meu grupo de catequese. Até hoje, porém, o que guardo dentro de mim, são as tuas lágrimas, ao ver-me com o cálice na mão, quando o levei até ao altar, no dia da minha Primeira Comunhão. Cânticos da Primeira Comunhão do Bé ainda entoam no meu pensamento, mas sempre acompanhados da lembrança do teu rosto.
A grande parte dos passos que tenho dado na Vida são reflexos da tua imagem, pois a Alma do mundo é só uma e tenho a certeza que a nossa parte nesse todo também é uma só...



2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

São palavras como estas que me fazem voltar à minha mais pura insignificancia... a ver que tudo aquilo que se luta no dia a dia (trabalhar, estudar, passar horas a fio no transito, chegar a casa e de TV ligada jantar onde não há o menor contacto familiar...) não tem o menor valor... tudo isto é uma passagem e deveria ser vivida com outro tipo de "entendimento" para com o outro... apenas nos momentos em que nos vemos "aflitos" é que damos valor a certo tipo de coisas e esquecemos todas as picardias mesquinhas que usamos como desculpa para não nos aproximarmos de alguem...

10:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Li este artigo pouco depois de ele ser escrito.
Releio-o no mês de Maio seguinte.
Adivinho o sentido.
Olá Estrelinha.
Abençoadas sementes que lançaste...

11:01 da manhã  

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