sexta-feira, maio 19, 2006

deixar-me respirar

Passei toda a tarde a ouvir Doors, letras fantásticas e uma sonoridade que me soa sempre a familiar, suspeito que existam até cheiros que emanam das colunas quase surdas tão próximo que o som me deixa de certos lugares.
As portas são sempre passagens, muitas vezes saídas rápidas ou mudanças, seja do espaço ou de nós próprios. Caminhamos por entre elas, muitas vezes sem nos apercebermos, e damos vazão a uma nova realidade, a um novo espaço. Selamos tantas que raramente nos apercebemos que a chave para as suas fechaduras está ao nosso alcance. Simplesmente não a procuramos e passamos a agir como se a porta fosse apenas uma parede. Falso engano.
Infelizmente passamos tanto tempo a tentar descobrir portas que nos esquecemos que o mundo pode ser visto de uma janela, que ela nos pode alargar o horizonte para além do imaginável. É possivel escapar por uma janela enquanto as portas nos parecem fechadas. Há imenso tempo que não procuro uma janela para respirar, deixo-me ficar à espera que a chave acerte na fechadura lacrada de uma porta imaginada.
Ontem essa janela foi-me oferecida. Ao abri-la ouvi o sublime som de uma gota de àgua a cair, o voo rasante de um pássaro colorido e pensei na perfeição deste pequeno gesto. A mesma perfeição que reside nos pormenores estava ali, para além da pequena janela aberta num estado quase primitivo e em todo o seu esplendor...
Esqueco-me tantas vezes como é bom respirar e sentir o mundo a abrandar até se mover ao som das batidas do coração....