O Troco
Era Domingo de Páscoa.
O dia estava solarengo e saí para espairecer, beber um café e ouvir um pouco de silêncio.
Aos Domingos a civilização abranda o seu ritmo o que me deixa poucas hipoteses para escolher onde beber um café, como era feriado as hipoteses escasseavam mesmo.
Num local mais longe encontrei uma pequena pastelaria onde a necessidade do dinheiro dos poucos clientes que decidem espairecer neste dia é indispensável. Estranhamente o pequeno espaço estava cheio e bastante barulhento.
Uma cara rispida e descontente percorria avidamente o outro lado do balcão. Sozinho. Procurando, num tom frenético, despachar todos os clientes que se apinhavam deste lado.
Quando me aproximei perguntou-me num tom seco - "O que vai ser?"
Pedi um café e um maço de cigarros.
Tenho o hábito de entregar o dinheiro quando me estão a servir e esta não foi a excepção. Uma nota.
Saboreava o meu quase frio café quando o individuo me atirou as moedas para cima do balcão deixando tilintar um som desprezivel que me desagradou. Fiz contas de cabeça e descobri que ele se tinha enganado. Deixei-me ficar durante um instante a saborear o que restava na chávena já gasta e, finalmente, chamei-o à atenção.
- Desculpe, quanto é o café? Perguntei-lhe serenamente.
O dia estava solarengo e saí para espairecer, beber um café e ouvir um pouco de silêncio.
Aos Domingos a civilização abranda o seu ritmo o que me deixa poucas hipoteses para escolher onde beber um café, como era feriado as hipoteses escasseavam mesmo.
Num local mais longe encontrei uma pequena pastelaria onde a necessidade do dinheiro dos poucos clientes que decidem espairecer neste dia é indispensável. Estranhamente o pequeno espaço estava cheio e bastante barulhento.
Uma cara rispida e descontente percorria avidamente o outro lado do balcão. Sozinho. Procurando, num tom frenético, despachar todos os clientes que se apinhavam deste lado.
Quando me aproximei perguntou-me num tom seco - "O que vai ser?"
Pedi um café e um maço de cigarros.
Tenho o hábito de entregar o dinheiro quando me estão a servir e esta não foi a excepção. Uma nota.
Saboreava o meu quase frio café quando o individuo me atirou as moedas para cima do balcão deixando tilintar um som desprezivel que me desagradou. Fiz contas de cabeça e descobri que ele se tinha enganado. Deixei-me ficar durante um instante a saborear o que restava na chávena já gasta e, finalmente, chamei-o à atenção.
- Desculpe, quanto é o café? Perguntei-lhe serenamente.
No balcão repleto de pessoas o silêncio instalou-se por momentos. Senti, num arrepio só, as caras voltarem-se para mim numa desconfiança atroz.
Do outro lado a cara rispida e descontente olhou as poucas moedas que ainda estavam em cima do balcão e respondeu-me o preço do café, que coincidia com as minhas contas. Perfeito.
- Então está a dar-me dinheiro a mais. Faça lá a conta. Esbocei então um pequeno sorriso, quase imperceptivel.
Estranhamente o silêncio mantinha-se o que fez a minha voz entoar por todo o pequeno espaço como um sussurro. Os individuos colados ao balcão olhavam para as moedas enquanto esperavam que, numa palavra precisa, do outro lado do balcão a soma fosse anunciada.
Mas do outro lado do balcão o ser desprovido de qualquer feição que lhe transmitisse sentimentos recolheu o troco, refez as contas e entregou-me a quantia certa - que não confirmei - em mão. Disse-me apenas um obrigado e olhou-me surpreendido.
Quando saí o ruído já se tinha voltado a instalar. Nada de novo.
Regressei então ao meu pequeno passeio de domingo, de Páscoa, mas com um largo sorriso no rosto. Tinha demonstrado em escassos segundos um pouco do espirito da Humanidade à humanidade.
Hoje voltei lá.
Recebeu-me com uma Boa Tarde sonora. Sorriu. Despediu-se com um cumprimento também sonoro e fraterno.
Talvez tenha voltado a acreditar nas pessoas.
1 Comments:
Essa história faz-me lembrar uma quase parecida, passada comigo, há-de haver uns dez anos, num dia de semana no supermercado belga. Eu ainda hoje apostaria que me deram na caixa 500 francos belgas a mais (12,50 €). Procurei o telefone na lista lá falei com quem de direito disse em que caixa tinha sido, deveria ter faltado dinheiro.
Não, se bem percebi nunca faltava, acho nem se contava de forma a saber se havia a mais ou a menos. Mas, e a senhora da caixa, deu-me o dinheiro coitada. Do outro lado nenhuma emoção, não é preciso trazer cá o dinheiro.
Tanto insisti que lá admitiram que eu pudesse voltar lá a entregar a nota que ainda acho me deram a mais. Mas não me agradeciam.
Mas nunca lá fui levá-la. Não seria para ninguém,seria para a caixa ou ficaria de lado sei lá para quê.
Não é uma história como essa do Domingo de Páscoa. No meu caso eu quis ser humano e deparei-me com o "sistema" (este tem as costas largas...)
Neste Domingo, o da história, provou-se de novo que há coisas que têm mais valor que o dinheiro. Eu tento fazer parecido, sorrir a ver se contagio alguém. No outro dia, de manhã, deixei passar um carro, a senhora que o conduzia agradeceu com um sorriso. Se calhar mais tarde alguém a chateou, ela poderia ter ficado com o dia estragado. Mas... se calhar o meu gesto matinal permitiu-lhe mais tarde refazer o sorriso, grata por ter cruzado um sujeito, eu, que sem razão, sem interesse,lhe fez um gesto humano. E ela pode ter reagido melhor a qualqer outro chato ulterior.
Se foi assim eu ganhei o dia: eu e outro(s) tivemos um dia melhor.
O sorriso também se aprende...
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